sexta-feira, 15 de julho de 2011

A Cidade de Rabiscos.


            Num lugar muito, muito distante, no mundo dos desenhos, havia uma rua escura. Rodeada por árvores rabiscadas com carbono. Ao final – nunca explorado – da mesma rua, dava-se conta do céu nublado que nunca chovia, do frio e do ar seco. O governo naquele lugar era falho, o dinheiro era papel rabiscado que não valia muito. Todos eram pobres. Muitos com desgastes emocionais e psicológicos tão grandes que tornavam-se mesquinhos, egoístas e infelizes. Na calmaria da noite, apenas os passos de Pegeto e seu fiel amigo, Pedrinho, ecoava pelo lugar. Pegeto era um velho rascunho feito há algum tempo, talhava seus objetos em madeira 2d, ele era carpinteiro. Pedrinho ajudava-o como podia – Pedrinho era um boneco de porcelana que chegara desgastado à casa de Pegeto numa noite tempestuosa. Ele estava fraco e sem algumas partes do corpo – pois nutria um carinho por seu guardião.
        Eles voltavam da feira com mais rabiscos velhos de madeira, feitos com lápis 6b, desta vez para por na lareira, além de algumas tintas a óleo para os traços de Pedrinho. No número trinta e seis – uma casa pequena, onde não tinha variedade de cores, apenas tons de branco, preto e cinza, e, quem sabe, verde – os dois entraram e trancaram a porta para se proteger do frio. Poucas horas depois da janta, a lareira já estava acesa e Pegeto trabalhava na pintura do pequeno boneco. Começou com os olhos, depois foi a vez das roupas e os sapatos, além da cor, cuidadosamente escolhida para a pele. Pedrinho estava todo arrumadinho novamente, nem parecia que era o mesmo de meses atrás.
        Pegeto sabia que Pedrinho não pertencia àquele lugar. Ele era um boneco lindo, de uma fina porcelana, que logo estaria na estrada a procura do seu lugar por direito. Ali era o país dos rabiscos, e Pedrinho era feito de material nobre. Pegeto preparava-se todas as noites para a iminente partida de Pedrinho, via-o dormir na cama improvisada e depois saía pelas ruas escuras a procura de um bar. Enchia a cara para livrar-se do tormento da solidão que chegava perto, como um amigo chato que a muito não o via e queria de qualquer jeito a sua companhia. Certa vez, numa dessas voltas, Pegeto encontrou a casa vazia e uma carta em cima da cama de Pedrinho, despedindo-se. Contrariando suas expectativas, ele não sentiu-se tão triste como pensara, mas teve saudades do boneco. Foi até a porta da frente, abriu-a e disse: “Boa sorte, meu pequeno!”, na esperança de que o vento levasse-as para Pedrinho. Fechou a porta e entregou-se a rotina, sempre com o ferrolho destrancado, caso Pedrinho aparecesse para dar um “Oi”.

Dedicado a Daniel.

3 comentários:

  1. Eu amei essa historia você é Admirável se expressa muito bem rapazinho intelectual sou teu eterno admirador parabéns pela mente criativa que você tem um abraço do admirador =*

    ResponderExcluir
  2. queeeeeeeeeeeeee legal! adorei!

    ResponderExcluir
  3. Que história linda, amei. Sem mais.

    ResponderExcluir