E cresci dentre as ninfas, entregue-lhes fui ao nascer. Um bando de Dríades deu-me a sabedoria como se eu fosse uma delas. Ensinaram-me a caçar com sutileza dos passos leves e transfiguração, a fabricação de perfumes de flores rosa-claras e amarelas, além dos afazeres domésticos e a magia da cura. Presentearam-me com seus mais secretos costumes e fizeram ambíguo o meu crescimento a cada primavera. À puberdade, meu traços eram ninfíticos – minha pele cresceu clara como um lírio branco, exalava um cheiro leve e doce como mel e meus cabelos eram macios como a água de um lago calmo. Mas permitiram-me a imagem de menino que me era por direito, portanto, fizeram-me híbrido – dei-me conta disso ao deparar-me com meu reflexo – Toquei-me no queixo, no peitoral, na virilha e no pênis, além das coxas e bunda. Alguma rigidez estava escondida em algum lugar ali, arrisco dizer que deveria ter até pelos também. Indicaram-me o caminho dos bosques, ao me verem entregue ao tormento das dúvidas. Meu andar era ninfítico, demorei a achar a trilha correta.
Deparei-me com o vale dos sátiros. Por certas vezes, presenciei o cortejo dessas criaturas rudes, desprovidas de sensibilidade, às ninfas do meu bando. Mas, naquele vale – cujo odor forte que permeava aqueles ares era desconhecido para mim – assustei-me com os modos daquelas bestas. Não davam-me qualquer fio de atenção, e, tolo como sou, foi preciso várias rosnadas para que entendesse que não podia ser ninfítico naquele lugar, refugiei-me num salgueiro alto, por medo. E ali em cima passei a viver pelos dias subseqüentes. Um ninho de hipogrifo formou-se em meus pensamentos em tais dias e noites de solidão, deparava-me com um conflito de gênero. Olhei-me mais uma vez e percebi o quanto era parecido com aqueles selvagens: Tinha as mesmas patas, chifres e um corpo levemente robusto. Mas, poucos pelos, pele alva, cabelos macios e voz confortante. Algo estava errado comigo.
Numa noite, sonhei com uma viagem a Delfos e pelo amanhecer, usei de transfiguração para passar despercebido por entre os sátiros e iniciar minha jornada. Encontrei loureiros e cheguei ao oráculo. Banhava-me na fonte Castália quando certa Pitonisa de cabelos vermelhos como fogo aproximou-se para entrega de uma profecia. Prosou a história de Édipo e disse-me com voz embargada: “O que queres é algo adquirido, o tempo te será um amigo chato e de exarcebada paciência. Voltas pelo mesmo caminho e pega pelas estradas os teus traços satíricos.”
Deparei-me com o vale dos sátiros. Por certas vezes, presenciei o cortejo dessas criaturas rudes, desprovidas de sensibilidade, às ninfas do meu bando. Mas, naquele vale – cujo odor forte que permeava aqueles ares era desconhecido para mim – assustei-me com os modos daquelas bestas. Não davam-me qualquer fio de atenção, e, tolo como sou, foi preciso várias rosnadas para que entendesse que não podia ser ninfítico naquele lugar, refugiei-me num salgueiro alto, por medo. E ali em cima passei a viver pelos dias subseqüentes. Um ninho de hipogrifo formou-se em meus pensamentos em tais dias e noites de solidão, deparava-me com um conflito de gênero. Olhei-me mais uma vez e percebi o quanto era parecido com aqueles selvagens: Tinha as mesmas patas, chifres e um corpo levemente robusto. Mas, poucos pelos, pele alva, cabelos macios e voz confortante. Algo estava errado comigo.
Numa noite, sonhei com uma viagem a Delfos e pelo amanhecer, usei de transfiguração para passar despercebido por entre os sátiros e iniciar minha jornada. Encontrei loureiros e cheguei ao oráculo. Banhava-me na fonte Castália quando certa Pitonisa de cabelos vermelhos como fogo aproximou-se para entrega de uma profecia. Prosou a história de Édipo e disse-me com voz embargada: “O que queres é algo adquirido, o tempo te será um amigo chato e de exarcebada paciência. Voltas pelo mesmo caminho e pega pelas estradas os teus traços satíricos.”