segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Primeiros Socorros.



Eu nunca havia feito curso de primeiros socorros. Posso dizer, com toda a categoria, que não há nada mais desesperador do que ver o amor morrer.
Todos os dias, em dois ou três meses, eu contemplava uma bela árvore que nascera do lado direito do meu caminho. Por essas terras áridas, era alentador ver algo verde e brilhante que resplandecia vida toda manhã. O bom dia era sagrado.
Gostava do cheiro e do gosto. Das cores e da energia. Do balanço com o vento. A vi crescer nesse espaço de tempo. Os frutos já viriam, pude sentir, pois as flores já brotavam.
Contudo, numa madrugada houve um vendaval. Fechei os olhos e, ao acordar, me deparei com meu próprio desespero. A bela árvore estava caída no meio do caminho, empatando minha passagem, com as raízes expostas. E eu estava de mãos atadas. Tentei dar-lhe água, mas ela não bebia. Tentei dar-lhe comida, mas ela não abria a boca.
Imóvel, nem ao menos pediu socorro. Apenas deleitou-se à facilidade da morte, sem lutar ou esbravejar. Enquanto eu, vivo e pulsante, senti toda a agonia que não era minha. Chorei tudo o que não devia chorar. Paguei por um preço que eu não merecia.

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