O amor está à barganha, assim
como um produto. Funciona na base da oferta e demanda, bem como o mercado. Há
uma síndrome de Narciso coletiva; uma tentativa imatura de valorizar-se perante
a animalidade da concorrência. A propaganda é a alma do negócio, claro.
Exaltam-se as qualidades, mascaram-se defeitos, numa tentativa de atrair a
maior oferta. Contudo, o paradoxo entre oferta e demanda se manifesta no típico
pensamento de que sempre se pode conseguir oferta melhor.
A guerra é travada desde o
início. Como uma briga de ringue, o objetivo é, unicamente, chegar ao melhor
produto. Desde o flerte até o primeiro ‘eu te amo’, aquele primeiro a hastear a
bandeira branca é o perdedor. É aquele que correrá atrás e sofrerá de amores.
Aquele que buscará atenção. Aquele que genuinamente se importará. Enquanto o
outro buscará alguém para um novo duelo. Mais adrenalina. Penso, que, no fundo,
todos estão em busca da derrota, do sofrimento e da auto piedade. O que é
realmente estranho. Vejo cavarem a própria solidão, mergulhando, após, em
relações supérfluas e inúteis, apenas breves distrações à entediante rotina
diária. Deixando o amor para depois, perecendo no dia-a-dia, puramente pela
ilusão astronômica de que haverá alguém neste mundo a ter exatamente o mesmo
valor, e então a batalha cessará.
O amor tornou-se capricho de
criança burguesa mimada. A mesma que faz birra quando, numa loja de brinquedos,
não lhe dão exatamente aquele que seus olhos enamoraram. Depois da birra, vem a
sensação de prêmio conquistado que, não muito tarde, é esquecido no canto do
quarto. Uma triste mediocridade, provinda da ignorância sobre si e sobre o
mundo. Plantando indiferença e colhendo solidão. Para, então, encher-se de auto
piedade e perguntar à exaustão ao universo ‘porque eu?’.
O capitalismo corrompeu até mesmo
o mais brilhante dos sentimentos. A generosidade e o sacrifício se perderam em
algum lugar na revolução industrial. Os sorrisos genuínos pereceram para as
vitrines de corpos. O brilho avivador no olhar dos amantes perdeu o folego. E a
vida anda sem graça, mergulhada na fome perpétua de entusiasmo vazio. E está desprovida
da sabedoria de que amor se sustenta em terreno rochoso, se constrói aos
poucos, pelos momentos que o tempo vai semeando. Contudo, os frutos só podem
surgir de um coração que ama verdadeiramente. E a isso, não há barganha, moeda
ou jogo de valores que pague.
Excelentes reflexões e texto! Parabéns!
ResponderExcluirMuito obrigado! Como você achou meu blog?
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