quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Barganha.

O amor está à barganha, assim como um produto. Funciona na base da oferta e demanda, bem como o mercado. Há uma síndrome de Narciso coletiva; uma tentativa imatura de valorizar-se perante a animalidade da concorrência. A propaganda é a alma do negócio, claro. Exaltam-se as qualidades, mascaram-se defeitos, numa tentativa de atrair a maior oferta. Contudo, o paradoxo entre oferta e demanda se manifesta no típico pensamento de que sempre se pode conseguir oferta melhor.
A guerra é travada desde o início. Como uma briga de ringue, o objetivo é, unicamente, chegar ao melhor produto. Desde o flerte até o primeiro ‘eu te amo’, aquele primeiro a hastear a bandeira branca é o perdedor. É aquele que correrá atrás e sofrerá de amores. Aquele que buscará atenção. Aquele que genuinamente se importará. Enquanto o outro buscará alguém para um novo duelo. Mais adrenalina. Penso, que, no fundo, todos estão em busca da derrota, do sofrimento e da auto piedade. O que é realmente estranho. Vejo cavarem a própria solidão, mergulhando, após, em relações supérfluas e inúteis, apenas breves distrações à entediante rotina diária. Deixando o amor para depois, perecendo no dia-a-dia, puramente pela ilusão astronômica de que haverá alguém neste mundo a ter exatamente o mesmo valor, e então a batalha cessará.
O amor tornou-se capricho de criança burguesa mimada. A mesma que faz birra quando, numa loja de brinquedos, não lhe dão exatamente aquele que seus olhos enamoraram. Depois da birra, vem a sensação de prêmio conquistado que, não muito tarde, é esquecido no canto do quarto. Uma triste mediocridade, provinda da ignorância sobre si e sobre o mundo. Plantando indiferença e colhendo solidão. Para, então, encher-se de auto piedade e perguntar à exaustão ao universo ‘porque eu?’.
O capitalismo corrompeu até mesmo o mais brilhante dos sentimentos. A generosidade e o sacrifício se perderam em algum lugar na revolução industrial. Os sorrisos genuínos pereceram para as vitrines de corpos. O brilho avivador no olhar dos amantes perdeu o folego. E a vida anda sem graça, mergulhada na fome perpétua de entusiasmo vazio. E está desprovida da sabedoria de que amor se sustenta em terreno rochoso, se constrói aos poucos, pelos momentos que o tempo vai semeando. Contudo, os frutos só podem surgir de um coração que ama verdadeiramente. E a isso, não há barganha, moeda ou jogo de valores que pague.

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