sábado, 31 de janeiro de 2015

Sonho.



A alvorada me dá os últimos goles da tua ilusão. A noite se foi e o sonho escorreu pela janela. As melodias me deixam com a sensação do sabor, mas não me alimentam. O Sol vem para queimar minha pele e me despertar para a dor cotidiana. Os passos apertaram e as minhas costas gritam por tua imagem, assustam meus olhos. Meu corpo magro e carente está exausto o dia inteiro, quase implora por cama, sufocado numa mentira dita minuto a minuto. Eu ainda estou de pé, e uma certa maresia desembaraça minhas penas antes de dormir. Visto a noite que faço todos os dias, trançando fantasia com esperança. As estrelas são apenas consequência. Fecho os olhos e logo o sorriso tímido alastra minha boca. Você não saiu daqui.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Barganha.

O amor está à barganha, assim como um produto. Funciona na base da oferta e demanda, bem como o mercado. Há uma síndrome de Narciso coletiva; uma tentativa imatura de valorizar-se perante a animalidade da concorrência. A propaganda é a alma do negócio, claro. Exaltam-se as qualidades, mascaram-se defeitos, numa tentativa de atrair a maior oferta. Contudo, o paradoxo entre oferta e demanda se manifesta no típico pensamento de que sempre se pode conseguir oferta melhor.
A guerra é travada desde o início. Como uma briga de ringue, o objetivo é, unicamente, chegar ao melhor produto. Desde o flerte até o primeiro ‘eu te amo’, aquele primeiro a hastear a bandeira branca é o perdedor. É aquele que correrá atrás e sofrerá de amores. Aquele que buscará atenção. Aquele que genuinamente se importará. Enquanto o outro buscará alguém para um novo duelo. Mais adrenalina. Penso, que, no fundo, todos estão em busca da derrota, do sofrimento e da auto piedade. O que é realmente estranho. Vejo cavarem a própria solidão, mergulhando, após, em relações supérfluas e inúteis, apenas breves distrações à entediante rotina diária. Deixando o amor para depois, perecendo no dia-a-dia, puramente pela ilusão astronômica de que haverá alguém neste mundo a ter exatamente o mesmo valor, e então a batalha cessará.
O amor tornou-se capricho de criança burguesa mimada. A mesma que faz birra quando, numa loja de brinquedos, não lhe dão exatamente aquele que seus olhos enamoraram. Depois da birra, vem a sensação de prêmio conquistado que, não muito tarde, é esquecido no canto do quarto. Uma triste mediocridade, provinda da ignorância sobre si e sobre o mundo. Plantando indiferença e colhendo solidão. Para, então, encher-se de auto piedade e perguntar à exaustão ao universo ‘porque eu?’.
O capitalismo corrompeu até mesmo o mais brilhante dos sentimentos. A generosidade e o sacrifício se perderam em algum lugar na revolução industrial. Os sorrisos genuínos pereceram para as vitrines de corpos. O brilho avivador no olhar dos amantes perdeu o folego. E a vida anda sem graça, mergulhada na fome perpétua de entusiasmo vazio. E está desprovida da sabedoria de que amor se sustenta em terreno rochoso, se constrói aos poucos, pelos momentos que o tempo vai semeando. Contudo, os frutos só podem surgir de um coração que ama verdadeiramente. E a isso, não há barganha, moeda ou jogo de valores que pague.

domingo, 25 de janeiro de 2015

Pecador.



O medo me corta e me espreita, deixando um rastro de lâminas pelo meu corpo. Eu, moribundo, com febre altíssima, encolho, numa tentativa de conforto. Gravei a poesia do teu corpo no meu. Embebedei minha carne da tua. E o mapa dos teus pelos está incrustado na minha pele. O teu cheiro enlevou minhas narinas e até agora tem me castigado. E a lembrança do nosso gozo unido me furta a paz antes do sono de cada maldita noite. Contudo, de que posso eu, pecador, reclamar?  Catei sarna, minha pele arde. Blasfemei contra a promessa da autossuficiência e cometi sacrilégio contra minha própria carne. Quebrei o juramento de manter minha alma intacta e limpa. Teu suor me suja, delator perfeito. De boca seca e mãos atadas, a fome de ti é a minha penitência pela petulância de amar.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Duduzinho.



O hoje tem gosto de saudade
Do dia que nossas mãos se abrigaram
Sob minha escolha à eternidade
Para os amantes que se amparam

Ah, se tu soubeste a falta que faz
E o que eu não pagaria pela paz
De ouvir novamente dos teus lábios, em carinho
Bom dia, meu Duduzinho



quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Morte.

O dia hoje acordou com gosto de sangue. Sinto morte iminente. O amor, morrendo aos poucos; pequenas feridas se transformaram num último fio prestes a se partir. A angústia ensopa o tempo de ansiedade. Mal se sabe quando será o último suspiro, o fio ainda está rente. Balançando para lá e para cá, dentre os espinhos que se aglomeraram.
Eu, tão ínfimo e sozinho, me desdobro em mil para não vê-lo desmoronar sobre mim. Questão de sobrevivência. Tento aparar os espinhos que nascem aos montes. Lixar as pontas. De tão imensos que são, por vezes perco o amor de vista. O coração palpita, penso que finalmente acabou. Mas ainda está lá, fino e frágil, balançando sobre seus algozes.
Ainda há esperança, tão fina quanto o que sobrou de um conto-de-fadas. Da escuridão pode surgir a luz, da morte, a vida. O Sol chegaria numa surdina heroica e secariam os ferrões. O céu, então, se alegraria. A tranquilidade me abraçaria num sono suave. E por todas as manhãs da minha curta vida, ofertaria uma medalha ao astro rei.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Sexo.





O meu sexo entorpeceu-se de magia e perdeu o sentido. Inebriante, não mais. Há apenas queimaduras por gelo; o fogo, de certo, apagou. E as portas da virilidade abrem-se apenas sob o decreto de três palavras mágicas: eu te amo.
O amor me consumiu de cima a baixo, de cabo a rabo. E me depenou inteiro. Como uma besta desprovida de seus pelos e suas garras. Não amedronta. Não fere. Desmantelou a utilidade.
Vago, então, com excesso de espírito. O corpo padeceu e se fechou. Fora forjado da dor para amar. E caminho em direção ao céu. Morrerei de amar, já que a vida pede muito mais sangue, calor, suor e pele que um eu te amo possa oferecer.