Meus pés, incrivelmente, não reclamaram ao atingir o chão frio pela manhã, que estava cinzenta, assim com eu. Desenhei com o dedo os contornos do meu rosto no espelho; talvez fosse um mapa, ou até, possivelmente, já tivesse encontrado o que tanto temi achar. Mais um sonho que tive, e mais uma vez, vieste num cinismo sutil invadir a mais privada das propriedades. O sagrado do meu sono foi roubado, e tua presença profana ousou me perturbar, e a audácia de me lembrar o que eu tinha jogado aos ventos do norte, na esperança de nunca ter que encarar novamente. Tu vieste esfregar à minha cara. Vieste zombar de mim. Zombar de minha falsa-prepotência. Ela, sim, caiu por terra com a tua estadia inconveniente. Viste a tua superioridade fria e egocêntrica, comparada a minha fragilidade desarmada.
Pelas tuas risadas, eu te expulsei. De novo. Há uma faixa de ‘Proibida A Tua Entrada’ na porta, em tom de pixe vermelho, letras grandes. A chave, sabe lá Deus onde caiu. Porém, antes de deitar esta noite, perguntarei ao espelho, exijindo respostas; quero uma expressão matemática, num papelzinho qualquer – pode ser amassado –, para domar o que em meu peito insiste em te cultivar, torna-lo-ei corcel, colocar-lhe-ei arreios e ensinar-lhe-ei o trote.
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