sexta-feira, 8 de abril de 2011

ParaPeito.


Eu não saía de casa. Passei a viver enclausurado pelas paredes daquele apartamento que cheirava a mofo. Cortinas velhas, cadeiras velhas, chão esmagado por meus passos de ida e volta. Copos quebrados ainda me serviam e eu ainda os usava, garfos tortos e muita coisa fora do lugar. A janela era o meu passatempo de qualquer hora do dia, observando a opacidade das pessoas que andavam pelas ruas, nem se dando conta de minha existência.
Pessoas batiam à minha porta, o meu sorriso era notável do outro lado da rua, até eu descobrir que se tratava de mais opacidade. Eram todos muito neutros. Eu voltava ao parapeito. Cigarro como mestre sala e sempre de pernas cruzadas, eu apenas observava, descendo com o mesmo sorriso sempre que solicitado e voltando para o mesmo lugar. Eu tomava banho morno e alguns remédios para dormir como o leite quente da madrugada.
O cheiro das rosas era sempre agradável, a areia da praia e o amanhecer. A morosidade das músicas que eu escutava, casava muito bem com as fotos de infância rasgadas que eu guardava debaixo do travesseiro.
Até agora eu ando em círculos, mas já fiz meu pé-de-meia. Não posso passar dia e noite vagando pelas ruas, pois o quebra-cabeça ainda não se completou e só Deus sabe quando será. Eu sei que falo em fragmentos e nem sei onde eu queria chegar. Vou pegar meu cigarro e voltar pro meu lugar.

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