Naquela tarde de inverno, o frio tinha dado uma trégua. Aproveitei para descer à calçada e fumar um pouco. Encostado num poste de luz, permaneci, quieto, me deliciando com meu cigarro. Eis que, de alguma esquina, ela surge – eu sabia que ela passava por ali naquele exato horário –, seus fios de cabelo tingidos de rosa dançavam uma valsa suave, regidos pela senhora brisa, que ditava, delicadamente, os passos da dança. Seu andar diferenciado e excêntrico me prendeu a atenção por segundos antes de tentar interpretar a roupa que ela carregava no corpo. Desde o tempo que a notei, em cima do meu parapeito diário, percebi uma grande criatividade. Lembro-me até do primeiro sorriso que vi brotar do seu rosto imponente, mais parecia uma moleca! Seu jeito brincalhão e tantas outras coisas. Mas ali estava eu, e lá vinha ela. Eu a observava vir em minha direção e tentei disfarçar. Abaixei a cabeça, fitando a fumaça do meu marlboro – que segurava com o indicador e o polegar – se dispersando no ar e ouvia atentamente o “toc toc” dos seus sapatos. Poucos segundos e levantei a cabeça, vendo-a com um sorriso estendido, há poucos metros de onde estava, continuando em minha direção. Sabe, por um momento eu pensei que aquele sorriso era meu, cheguei até a arquitetar outro de retribuição, mas ao pousar o olhar para trás, vejo que ela estava acompanhada. Sua turma a aguardava logo atrás de mim. Apaguei o cigarro e voltei ao meu parapeito, o frio voltara.
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