quarta-feira, 22 de junho de 2011

Visita.

Era uma vez uma visita que pôs-se a entrar muito à vontade.
O homem velho de braços cansados sempre chegava às quatro e meia da tarde.
Tomava chá, comia biscoitos caseiros e danava-se a falar do seu dia anterior,
era tudo monótono,rotineiro; mas ele tinha prazer de conversar com aquele outro senhor.
O ritual antes de ir, ao anoitecer, era sempre o mesmo: “Dê-me biscoitos para que eu agrade a minha senhora?”. E lá ia o velho homem com um pacotinho de biscoitos nas mãos, passo a passo para casa.
Todos as tardes ele passava horas falando de como era formosa a sua esposa, uma mulher caprichosa e que cuidava bem dele. Contava das maravilhas de sua comida e de como ela deixava as roupas cheirosas e macias. Mas, numa rápida observada, o senhor só usava duas roupas, que estavam sempre sujas e fedidas, além de sua magreza doentia.
“Pobre Manoel, viúvo há tanto tempo, talvez tenha pirado... Nem mesmo lembra-se de que perdi a audição já há alguns anos.” Era o que o outro senhor pensava ao fechar a porta.

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