
Meus lábios, sempre serrados à serenidade, mentem sobre o
que me cobre os olhos. Não há choro. Porém, há o risco de avalanche sempre
eminente. Sirenes de terremotos. Sentinelas que vigiam um mar predador que
espreita minha vontade. E anjos que guardam meu segredo: eu sou uma maldição. Um
cio descontrolado e castrado mascarado pelo sol que se estende acima. Um canal
que se obstrui e o sangue que flui pelos pés. Os dias se tornam mais exaustos
quando não existe opção de caminho e o músculo rasga, descarrega minha força.
Gladio impetuosamente contra a manada que conflita para entrar em controle. Há
várias cabeças de leões no quarto quando fecho a porta, uma a mais no dia
seguinte. Há várias marcas que trago no corpo; e a súplica por uma queloide que
seja, contudo, o líquido vermelho ascende à luz e jorra – nem rápido, nem
devagar, apenas continuadamente. Sou feito de carne e sangue. Eu sinto muito – não
falo de lamentação, mas literalmente. Uma infeliz literalidade.
Hoje estou cego,
também. As luzes, sempre tão fortes, encandeavam tudo ao redor. Só existia a
luz azul, ou a vermelha, uma preta ou uma branca. Nunca pude enxergar além do
brilho. Nunca pude compor uma paisagem inteira. Contudo, veja a minha beleza. O
sangue que verte da minha carne é vermelho vivo, meu espírito aflora. O sangue
escorre pelo braço e eu escrevo em letras garrafais:
“Todo e qualquer ser humano é perdoável, pois a dor – qualquer
que seja – é o câmbio da vida.”
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