Hoje eu me distanciei do caminho de volta para casa. Chovia bastante e a estrada era de barro. Não deu outra, atolei os pés. Na rua estreita, de casas simples, havia pessoas queimando o lixo, havia pessoas ajeitando os telhados frágeis demais para aguentarem o peso do tempo e havia pessoas varrendo o chão da calçada em pleno temporal. Vi gente com a mão cansada estendida para o alto, pedindo comida. Vi gente doida que pensava que tinha mais de três metros.
As vielas eram às dezenas. Escuras, claras, de gente simples, que sorria para a vida que brotava das mãos sofridas e olhos cansados. Perguntei-me sobre um mapa, estava perdido. Dentre um labirinto, não pude dizer com certeza onde estava. Meus pés choraram sangue e a loucura sorriu pra mim, nuns dias escuros. Banhei-me na escuridão de uma noite sem lua e sem estrelas. Caí em agonia, num chão de espinhos, sem ao menos saber se era norte ou sul. “Ele nunca te deixará sozinho, planta os teus joelhos ao chão e implora”, uma senhorinha disse-me ao passar por uma rua e lembrei.
Rasguei o peito e me pus ao chão. Não havia mais casas, ou pessoas, ou ruas alagadas. Apenas vento forte e uma árvore que queimava em chamas celestiais, e era ela a força vital do meu coração no meio do meu jardim. Havia flores, sim, mas também havia muitas ervas daninhas. Senti que alguém enxugava minhas lágrimas e me estendia a mão. As perguntas se foram e me permiti sentir, como ser levado pela corrente de um rio tranqüilo. Eu conheci a Deus depois de muito andar. Eu conheci a Deus depois de tantas feridas sem respostas. Conheci a Deus enquanto as costas doíam. Eu conheci a Deus antes e depois de um suspiro doloroso. A luz finalmente sorriu para mim.
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