Hoje a casa está inundada. Desde a tua partida, a água vem
se acumulando pelos cantos, fazendo poças, inundando os cobertores que serviram
de teto aos nossos corpos. Tenho me afogado com frequência. E agora eu te causo
a sede, te deixando à mercê das águas mais vagabundas para te saciar. Por mais
que me preocupe, sei que não devo. És dono das tuas escolhas, do teu destino e
da tua desgraça. Só não podia desmoronar junto contigo, seria injusto. Tenho
água demais e tu sabes. Posso matar a sede de qualquer um que se encoraje a
adentrar no meu recinto, tomar um café e dividir as lamúrias comigo. Por isso,
eu escolhi te deixar da porta para fora. Antes morrer afogado num amor que não
doei, que aceitar de bom grado as tuas adagas.