domingo, 6 de novembro de 2011

O Sem-alma.

Lá vai ele, lá vai
Perambula pela Terra querendo comida
Querendo água, querendo paz
Guerreando contra a ditadura do tédio
O algoz insuportável
Não grita, não chora
Não sorri, não enxerga
Contra o tórax bate uma pedra
Levando seu sangue
Roubando seus meios
Não há laços com esses ou aqueles
Nem mesmo a mulher que lhe deu os seios
O olhar falecido de nascença não fala
Munido de perfumes e falácias
E os sorrisos graciosos guardados na mala
De porta em porta
De tempos em tempos
Apontam-lhe os dedos, começam a julgar
Se vê como destino, refazer n’outro lugar
Caminhando pelas pedras, adiante, uma clareira
Logo, um penhasco, acima uma ameixeira
A vida ficou sem motivo, de repente
O tédio lhe estrangulou o ser como uma serpente
O céu responde ao sem-alma
Nunca haverá silêncio, nem paz, nem calma
A certeza lhe vem: Sua vida é uma droga
Abre os braços e...

sábado, 5 de novembro de 2011

A Lenda de Jaebé (João-de-barro)


Contam os índios que foi assim que nasceu o pássaro João-de-barro:
Segundo a lenda, há muito tempo, numa tribo no sul do Brasil, um jovem apaixonou-se por uma moça de grande beleza. Jaebé, o moço, foi pedi-la em casamento. O pai dela então perguntou:
- Que provas podes dar de sua força para pretender a mão da moça mais formosa da tribo?
- As provas do meu amor! - respondeu o jovem Jaebé.
O velho gostou da resposta, mas achou o jovem atrevido, então disse:
- O último pretendente de minha fila falou que ficaria cinco dias em jejum e morreu no quarto dia.
- Pois eu digo que ficarei nove dias em jejum e não morrerei.
Toda a tribo se admirou com a coragem do jovem apaixonado. O velho ordenou que se desse início à prova. Então, enrolaram o rapaz num pesado couro de anta e ficaram dia e noite vigiando para que ele não saísse nem fosse alimentado. A jovem apaixonada chorava e implorava à deusa Lua que o mantivesse vivo. O tempo foi passando e certa manhã, a filha pediu ao pai:
- Já se passaram cinco dias. Não o deixe morrer.
E o velho respondeu:
- Ele é arrogante, falou nas forças do amor. Vamos ver o que acontece.
Esperou então até a última hora do novo dia, então ordenou:
- Vamos ver o que resta do arrogante Jaebé.
Quando abriram o couro da anta, Jaebé saltou ligeiro. Seus olhos brilharam, seu sorriso tinha uma luz mágica. Sua pele estava limpa e tinha cheiro de perfume de amêndoas. Todos se admiraram e ficaram mais admirados ainda quando o jovem, ao ver sua amada, se pôs a cantar como um pássaro enquanto seu corpo, aos poucos, se transformava num corpo de pássaro!
E foi naquele exato  momento que os raios do luar tocaram a jovem apaixonada, que também se viu transformada em um pássaro. E, então, ela saiu voando atrás de Jaebé, que a chamava para a floresta onde desapareceram para sempre.
Podemos constatar a prova do grande amor que uniu esses dois jovens no cuidado com que o joão-de-barro constrói sua casa e protege os filhotes. Os homens admiram o pássaro joão-de-barro porque se lembram da força de Jaebé, uma força que nasceu do amor e foi maior que a morte.