
Saio de onde estou. Olho o relógio. Marca 5 da tarde. O pôr-do-sol já estaria bem visto, não fosse as nuvens que o encobrisse, fazendo a luz cair e toda essa avalanche aumentar. Vago pelas ruas, meus olhos captam cada imagem vazia que me cobram atenção. Às vezes fecho os olhos de vagar, talvez para amenizar, talvez para duplicar tudo o que transborda em mim. Cada gota do ambiente me reluz a solidão dos meus passos vagos. E continuo, rezando para não chegar e ter que deitar no vazio de uma cama grande, sozinho.
A chuva começa a cair. Vejo o crepúsculo quase inexistente pelas nuvens negras de chuva. Passo a passo, passo a passo. Vejo tudo se transformar em paisagem de chuva e me refletir nos caminhos por onde vou. É, agora as gotas escorrem pelo meu corpo. Meus cabelos ensopados respingam em meu rosto. Descem pelas bochechas até o queixo e caem ao sabor do vento. Minhas roupas estão mais pesadas agora. Mas ainda assim, não quero chegar, tudo vai se concretizar.
Essa cidade fria sou eu exatamente. Estou chuvoso, perdido e vazio. Estou sem direção em mim mesmo. Perdido em uma alameda deserta, sentado, na chuva. Esperando algum pedestre que conheça meus caminhos. Que me guie e me deixe seguro. Arg, toda essa fragilidade besta... Eu e minha alma de artista.
Mas o meu destino está chegando. Faltam poucos metros, poucos passos. A chuva ainda cai. As imagens ainda existem, os sentimentos também. Não creio que passem tão cedo.
Passo a passo. Abro a porta. Subo as escadas. Acendo as luzes e vejo tudo como as ruas por onde passei, vazio. Ligo a televisão, vou para a cozinha preparar algo. Talvez não seja tão ruim assim afinal...