O céu enegreceu de vez. Não há retorno depois do
ponto-limite, então, aqui estou eu, num barco à deriva. Sem chamada de
emergência, sem mapa, sem volta. A vida concebe nossas causas, nós determinamos
as consequências. A benção da existência humana é a escolha, a desgraça,
também. As lágrimas, como é sabido, são o sangue da alma, contudo, não valem um
vintém no câmbio da vida. A moeda de troca é a dor; e de dor em dor, as
lágrimas perdem valor. Ou seja, uma lágrima depois dos vinte é mais cara. O
alívio torna-se objeto de luxo, e os prazeres esdrúxulos e antes estranhados,
depois enaltecidos. Pois, a única alternativa que o destino nos deixa é uma
auto-felação numa tentativa errônea de compensação. Convenhamos: quando se está
perdido num deserto árido e morto, qualquer sombra é palácio.