domingo, 15 de fevereiro de 2015

Lixo.




                O tempo se esparramou por aquele quarto minúsculo que julguei que seria suficiente. Os momentos se converteram em lembranças e se amontoaram. Dentro de quatro meses, há minutos demais, horas demais, finais de semana demais. E hoje eu estou apavorado. Produzimos o lixo mais lindo e valioso do mundo, contudo, nenhum de nós irá recebê-lo de bom grado caso tudo termine num tribunal. Tu o empurrarás para mim. Porém, francamente eu me deixei poluir. Também não sei por onde começar a faxina, talvez nem queira. Talvez não haja mais o que se fazer. Permaneço, então, entre a cruz e a espada. Entre a beleza e o medo.  Vivo a nós como se tudo fosse uma fábula de papel que logo estará se desintegrando. Eu, como um escritor decadente, acabei prolongando demais o final feliz e o ponto final se perdeu dentre as entrelinhas. Agora tenho medo até de encontra-lo. Não sei o que faria com tudo aquilo que produzimos. Escrever, não mais! Então, me chame um conciliador e que se faça a partilha dos bens. Eu, de certo como vítima, exijo todo o teu desapego e de herança a ti, te deixo todas as lembranças.