O tempo se esparramou por aquele quarto minúsculo que
julguei que seria suficiente. Os momentos se converteram em lembranças e se
amontoaram. Dentro de quatro meses, há minutos demais, horas demais, finais de
semana demais. E hoje eu estou apavorado. Produzimos o lixo mais lindo e
valioso do mundo, contudo, nenhum de nós irá recebê-lo de bom grado caso tudo
termine num tribunal. Tu o empurrarás para mim. Porém, francamente eu me deixei
poluir. Também não sei por onde começar a faxina, talvez nem queira. Talvez não
haja mais o que se fazer. Permaneço, então, entre a cruz e a espada. Entre a
beleza e o medo. Vivo a nós como se tudo
fosse uma fábula de papel que logo estará se desintegrando. Eu, como um
escritor decadente, acabei prolongando demais o final feliz e o ponto final se
perdeu dentre as entrelinhas. Agora tenho medo até de encontra-lo. Não sei o
que faria com tudo aquilo que produzimos. Escrever, não mais! Então, me chame
um conciliador e que se faça a partilha dos bens. Eu, de certo como vítima,
exijo todo o teu desapego e de herança a ti, te deixo todas as lembranças.