Havia tantas flores dentro de mim, que quis, um dia, apenas
por bom grado, dividi-las. Eram medicinais e preveniam muitas chagas. Mas aqui
fora descobri que eram espinhosas o suficiente para ferir. Aprendi a
cultivá-las no escuro das minhas vielas.
domingo, 23 de dezembro de 2012
sábado, 22 de dezembro de 2012
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
Gosto.
Meu doce é de gosto marcado
Parece chiclete mascado
Mas o tempo ajuda a viciar
A leveza do meu sabor
E a fúria do meu gostar.
Meu tempo, teu tempo.
Tenho tempo pra vaidade, não.
Nem pra tanto desperdício.
Mas tenho pro amor. Tu tens?
Tenho tempo pra tantos sorrisos quanto couber
Tenho tempo pra olharmos o céu, até
Tão juntos quanto puder
Tenho tempo pra molhar tua boca
Pra pegar tua mão
Pra te fazer uma declaração
Tenho tempo pra te mostrar meus rabiscos
Tenho tempo pra te pintar de quantas cores quiser
Tenho tempo pra te fazer suar
Tenho tempo pra te envenenar
Tenho tempo pra escrever, eu e tu
Tenho tempo pra juntar, eu e tu
Tenho tempo pra construirmos um nós.
Mas eu quero teu tempo pra tudo isso fazer
Por isso tem que me responder
Desse tempo não te deixo escapar
Quer me namorar?
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
Castin, que matou Lusto.
Um planeta distante, muito distante. Em sua órbita no
cosmos, em algum ponto de um espaço-tempo diferente, a vida brotava de seus
compostos, em diversas vertentes, evoluindo conforme as leis da consciência
universal. Naquele planeta havia uma espécie de pensantes, muito parecidos com
os humanos. Eram espíritos e eram animais, engatinhando na eterna escala do
aperfeiçoamento. Estando em qualquer parte daquele mundo, os costumes eram
estritamente solitários e dominadores. Acostumaram-se a não andar de pés nus,
no chão. Acostumaram-se a dominar e usar outros animais (semelhantes aos
cavalos) para se deslocarem. Ainda estavam no estágio inicial de inteligência e
a cultura era demasiadamente primitiva: Cada indivíduo possuía manadas de
vários e vários animais. Os corcéis usados eram os que lideravam fisicamente a
tropa, num dado instante, a qualquer momento; ou seja, as trocas de sela eram
constantes durante o dia. A habilidade de mudança de sela foi adquirida
conforme as gerações.
Aquela espécie de humanóides nunca tocava o chão, seus
acampamentos eram raros e quase sempre, feitos acima do solo. Costumavam dormir
no alto dos galhos entrevados das árvores grossas e secas que brotavam daquele
chão morto. O dia começava assim que os sóis apontavam ao horizonte.
Castin tocava sua manada perante o deserto, no estreito
equatorial e seco. Com água escassa e, consequentemente, falta de alimento, ele
galopava com seus mais de vinte animais, cortando o deserto de rocha de um
ponto a outro. Além de bons corcéis, ele também tinha o dom de saber escolher
cada bicho.
Castin sempre regeu seus corcéis com mãos de fogo, fazia
questão de escancarar o seu autocontrole e dominação aos mais novinhos. Mas
desde Lusto, seu orgulho estava jogado à lama, literalmente. Lusto apareceu de
repente, numa época de chuva, em algum lugar do oeste verdoso do deserto. Era
filhote e Castin não soube como ele estava sozinho naquele lugar inabitado.
Pegou-o para si e, aos poucos, tentou mostrar como tudo seria dali para frente.
Lusto, então, cresceu, e adquiriu uma força um tanto incomum para os corcéis.
Era grande, com patas grossas e imponentes, longos pelos da calda e do pescoço,
jogavam-se ao vento com a velocidade que aquele corcel adquiria, quando queria.
Castin ficava observando-o nos momentos de descanso que a sombra da tarde lhe
dava. Em cima de um galho grosso o suficiente para aguentá-lo, os olhos de
Castin fitavam a rapidez daquele animal quando não estava sob seu controle.
Apesar de querer usufruir daquela força que Lusto tinha às patas, Castin achou
por bem esperar a hora certa.
Era noite e nenhum amontoado de árvores secas à vista. A
manada estava desgastada pelo dia árduo e o sono já balançava os olhos de
Castin. Apesar de nunca ter insistido para Lusto avançar ao primeiro lugar para
poder montá-lo, Castin sempre quis experimentá-lo. Uma das luas brindava o céu
com uma luz verde e forte, transfigurando o chão num espelho natural de luz.
Castin sorria ao vento, mesmo estando tão exausto. Tanto quanto de repente,
Lusto toma o domínio da manada e Castin se vê no momento de mudar de sela.
Surpreso, montou Lusto e tentou tomar as rédeas. Mas Lusto era prepotente e
mostrou a Castin que do seu modo era muito melhor. Ganhou uma velocidade
incrível , deixando seu montador bestificado com a sensação de voo que tivera.
Em êxtase, Castin se deixou seduzir pelo vento, pela luz da lua varrendo o chão
de pedra e pelo frio que sussurrava em sua pele. Estava tão hipnotizado que nem
se deu conta de que Lusto atravessara uma estreita faixa verde que dava num
imenso oásis no meio do deserto. Castin sabia que não era inteligente entrar
num estreito verde, e ainda mais, quando a luz não enchia os olhos. O transe
passou. Após o clímax daquela corrida tão intensa, corcel e montador estavam
atolados num pântano.
O esforço que Castin tivera para tirar o bicho e a si mesmo
daquela lama toda, foi o mesmo que tivera para esbofetear a cara cínica com que
Lusto lhe fitava. E aquilo não parou ali: Lusto continuou mais e mais rebelde.
Eram raras as vezes que ele tomava o controle da manada, mas quando ocorria,
Castin se deixava dominar pelo instinto selvagem e primitivo do corcel.
Contemplava o prazer puro e físico de um momento em que, logo após, viria
alguma desgraça. Espinhos, penhascos, um
bando de lobos grandes e tantas outras enrascadas o infeliz se metia por sua
fraqueza pelo prazer que a liberdade de Lusto lhe dava.
Os ciclos dos sóis foram se sucedendo. Castin estava
amadurecendo e percebia que aquele corcel só lhe dava aperreios. As situações
de perigo vieram aos montes depois que o tempo passou. Lusto, ainda mais forte
e mais hábil, já não deixava a preguiça dominar sua vontade de estar à frente
da manada para poder ir aonde bem entendesse. Isso acabaria por destruir o
pobre montador e ele se dava conta disso. Passou noites inteiras pesando os
prós e os contras de o corcel continuar em sua manada. O prazer da liberdade
que Lusto soprava-lhe ao rosto era imediatamente abafado pelo perigo
conseguinte.
Os corcéis só podiam se libertar dos montadores de uma única
maneira conhecida naquele tempo: A morte. Castin era frio e rígido, mas tinha
sentimentos. Além do vício da liberdade ser um forte empecilho para se livrar
de Lusto, ainda havia a pena que abrandava-lhe o coração. Enquanto se dedicava
a traçar o destino do corcel, seus olhos vislumbravam a felicidade de estar
livre daquele animal, correndo até mesmo em círculos, ao luar. A compaixão seria
mais um desafio dos dias sequentes.
Lusto parecia estar sentindo algo diferente, depois daquela
noite acordada que Castin passara. Castin, tentando tomar coragem nos dias
seguintes para, então, se livrar daquele problema, sentia o animal um tanto
abatido. As forças para cravar-lhe o punhal na garganta eram levadas a cada dia
vivido. Mas a força da natureza prevalece diante de qualquer tempo, seja lá
qual for.
Estava anoitecendo e Castin travava a mesma luta diária com
sua manada. Já fazia tempo que Lusto ficava com os últimos do bando e ele já se
acostumara com a nova personalidade passiva do corcel. Entretanto, Lusto
começou a avançar dentre os outros corcéis e Castin, mesmo estranhando,
montou-o. A maneira que o corcel levantou agilidade, o cavaleiro ainda não
havia experimentado. Lusto conseguiu escalar até os montantes de rochas que
encontrava pelo caminho e deixou muitos de sua tropa para trás. Castin, óbvio,
estava entretido demais para se dar conta. Os sóis ainda estavam à vista e, se
antes o frio lhe soprava, agora eram as brisas mornas do fim de tarde. A luz
dourada estendida à tapete no chão diante das patas de Lusto, as nuvens
pareciam saudá-lo e a poeira que aquele bicho ágil deixava a cada atrito dos
cascos com o chão extasiavam por inteiro o corpo de Castin. Entretanto, a
liberdade ao extremo do limite nunca lhe custou tão caro.
Era a estação seca,
em que as bestas-feras estavam ainda mais perigosas. Apesar de hábil e
experiente, Castin não conseguiu perceber que Lusto corria para a morte, ao se
deparar com um desfiladeiro de ossos. Tão tarde, mas antes que nunca, Castin
caiu em si, aos poucos, e viu a estupidez de, mais uma vez, deixar-se levar.
Lusto, além de perder boa parte da manada, o levou para os dentes da morte, no
covil de bestas-feras. Também não tão tarde, elas farejaram intrusos e logo
deram as fuças. Eram três naquele lugar. Mas o suficiente para acabar com o
resto do bando que restara.
Três monstros enormes e Castin, Lusto e dois corcéis
restantes estavam encurralados. Uma parede de rocha de um penhasco imenso se
punha à frente deles, e as bestas, logo atrás, andavam lentas e majestosas,
cientes de que estavam com o banquete pronto. Castin ainda montava Lusto e, sob
desespero, pensava em como sairia com vida dali. De imediato, pensou, o
primeiro a ser sacrificado seria Lusto. A muito custo, conseguiu trocar de
sela, tentando entregar Lusto para as bestas. A primeira – provavelmente o
macho, observou Castin – mirava o montador com certa avidez. Ela o queria; não
à toa, golpeou um dos corcéis com sua pata imensa e deixou-o para as outras
duas, que de tão famintas, não viram Lusto correr.
A vala estreita de pedra deixava Castin cada vez mais sem
opção. Não havia para que lado escapar e à sua frente, a besta parecia sorrir
para ele. Dentes tão enormes... Se eram afiados, Castin não fazia questão de
saber. O corcel dava seus passos para trás, até que a parede de rocha não
permitiu mais. Era esse o fim de Castin. Seus olhos e os da besta estavam
presos, como numa dança mortal, nenhum se atrevia a deixar escapar o olhar do
outro. Castin sabia que não adiantaria sacrificar o corcel, pois a fera o
queria, parecia até uma questão de honra. A passos lentos, ela se aproximava.
Castin preparava o punhal; lentamente escorregava a mão esquerda até a cintura
para pegar a lâmina que seria sua única possibilidade. Talvez ironia, ou talvez
o destino quisesse reafirmar sua morte, alertando-o que não teria saída: as
duas bestas terminaram com o corcel a elas jogado e vieram acompanhar o resto
do banquete. Uma delas avançou a frente de Castin e levantou a pata. Foi
violentamente repreendida pela primeira, a que almejava o montador e a briga
começou. Dois titãs degladiando e a oportunidade de se ver livre dali. O corcel
saltou alto sobre o embate das bestas e pôs-se a correr. Não tão longe, pois
logo foi abatido pela terceira. Castin foi arremessado ao chão, enquanto a
besta devorava seu último corcel. Como ele sairia dali? Nem precisou pensar
muito.
Lusto surgiu de uma rocha alta e saltou bem à frente de
Castin. Com certa dificuldade, levantou-se do chão, apoiando-se em Lusto e
montou-o. Lusto foi hábil e conseguiu sair daquele covil. Galopava tão rápido
que a paisagem parecia ser engolida pelas suas patas. Já era noite, mas Castin
estava irremediavelmente decidido.
Não mais a habilidade, nem a compaixão ou o dom da montaria.
O que guiava Castin era o ódio. Por causa de Lusto, agora ele perdera tudo. Não
havia mais nenhum corcel e o seu coração rejeitava o único que sobrara, justo
aquele que assolara a desgraça sobre seu montador. Chegou ao ouvido direito do
animal e cochichou, mandando-o correr como nunca havia corrido, pois aquela
seria sua derradeira. Levou, então, a mão direita ao punhal, pendurado na
cintura. Enquanto Lusto corria gastando toda a força das patas, pensando assim fugir
da morte. Castin enterrou o punhal na garganta do corcel e rasgou-a de baixo a
cima, só largando a adaga quando o maxilar robustodo animal o impedira de
prosseguir. Lusto caiu instantaneamente,
assim como seu montador.
Deitado no chão, com
alguns poucos arranhões e Lusto logo mais atrás, agonizando pelo sangramento,
Castin estava satisfeito. O sangue de Lusto aguava a terra morta. As estrelas
contemplaram a morte do cavalo e Castin contemplava o seu fracasso diante de um
único corcel. E, pela primeira vez em muito tempo, colocou-se de pé para, com
os pés nus no chão, fazer o próprio caminho.
Na verdade, tudo é mentira. Castin nunca foi um montador e
nunca teve manada nenhuma. Nem muito menos poderia matar corcel algum, o qual
montava, porque Castin é um centauro.
domingo, 2 de dezembro de 2012
Pessoas
tém um incrível ponto de visão, de nome sexualidade. Interessante como um
sorriso é interpretado como algo pecaminoso e inconveniente. Assim como apenas
um olhar é o suficiente para gerar guerras inteiras – desnecessárias, quero
ressaltar.
Não me interprete mal, nunca! Eu não queimo, não inflamo nas labaredas do desejo, e muito menos sou uma besta. Meus sorrisos são sinceros, e são apenas sorrisos. E deixo a garantia de que meus olhares são apenas de curiosidade, sou um observador nato, com fome e sede.
Ah, e quero grifar que tenho o respeito como um de meus traços essenciais. Não levantaria um dedo em detrimento de alguém, muito menos do que une duas pessoas. Penso ser o amor algo valioso demais para ser violado.
Não me interprete mal, nunca! Eu não queimo, não inflamo nas labaredas do desejo, e muito menos sou uma besta. Meus sorrisos são sinceros, e são apenas sorrisos. E deixo a garantia de que meus olhares são apenas de curiosidade, sou um observador nato, com fome e sede.
Ah, e quero grifar que tenho o respeito como um de meus traços essenciais. Não levantaria um dedo em detrimento de alguém, muito menos do que une duas pessoas. Penso ser o amor algo valioso demais para ser violado.
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