sábado, 18 de dezembro de 2010

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  A minha natureza cética me permite fazer perguntas. Questionar e confrontar faz parte da minha essência. As perguntas tem o poder de nos levar a muitos lugares e conforme encontramos as respostas, mais intrigante fica esse jogo. Me dei conta das jogadas perigosas a pouco tempo.
  A cada passo que fazia meus questionamentos sobre tudo ao meu redor, eu adentrava num lugar desconhecido. Uma aparente estradinha estreita era o que eu podia ver. Sentia como se tivesse uma densa mata de sendo cortada apenas pelo caminhozinho que seguia, mas não podia ver e nem sentir nada, estava na total escuridão. Já estava muito longe e não podia voltar, teria que dar continuidade a jornada, mesmo que não soubesse aonde chegaria. Cada vez que me aprofundava nas perguntas, sentia que o pouco de luz que tinha ia apagando a medida que as questões ficavam sem respostas.
  Num certo momento, senti meus tênis pesados e encharcados. O caminho se transformara num rio, totalmente negro e eu não havia percebido. Notei que as águas eram muito calmas, o único movimento que fazia era produzido por meus pés, quando andava. Era interessante que a água emitia reflexos de luz, mas não tinha luz alguma no lugar.
  Meu olfato paracia não funcionar, não sentia cheiro nenhum. Me veio uma vontade irresistivel de deitar ali mesmo. A água mal cobria o peito do meu pé, não haveria problemas. Poucos momentos após sentir a água molhar as minhas roupas e o meu cabelo, sentindo ela chegar na metade da minha bochecha, tornei minha atenção à escuridão que se seguia acima de mim. E as malditas perguntas continuavam brotando feito uma fonte de água natural e aos poucos, a água que me cercava foi aumentando. Mas a sensação que eu tinha era de que estava afundando num rio imenso e desconhecido. Prendi a respiração e me deixei afundar.
  Perguntas, perguntas, perguntas. Abri os olhos e me encontrei no banheiro da minha casa. Sentei no vaso e tomei um pouco de ar. Tudo continuava muito escuro. Abri a porta. Apenas um passo para fora e a porta se fechou. Mais uma vez, me senti impressionado, porque a luz que iluminou o banheiro vinda propriamente de fora, foi cessada assim que a porta se fechou. Me vi novamente no lugar onde tinha estado momentos atrás. Dessa vez, sem estradinha e sem riozinho. Não havia nada, nada.
  Já não tinha para onde correr ou a quem chamar. Restava apenas eu mesmo naquele lugar. Eu já não controlava as perguntas que pareciam ter vida própria. Comecei a perceber que elas, de um jeito ou de outro, me levavam a uma única, cuja resposta poderia me tirar de todo aquele tormento: Deus? Uma luz de pôr-do-sol levantou-se tímida no horizonte ao meu lado direito e foi aí que meus olhos se abriram surpresos para o que me esperava: Um abismo indiscritivelmente colossal mostrou-se com a mínima luz e não pude ver mais nada adiante. Um pé atrás para servir de apoio, me inclinei um pouco para baixo para tentar enchergar alguma coisa, era um buraco negro. Olhei dos dois lados e só pude ver a linha tênue que se alastrava por todo o meu campo de visão, apenas mostrando a terra a que eu pisava cortada pela imensidão negra à minha frente. Olhei para as minhas próprias mãos e meus pés. Tentei achar a resposta, motivado pelo pavor que se alastrava pelos nervos das minhas costas. Ainda continuo aqui, com o abismo como visão desde o acordar ao adormecer.